Animais domésticos e silvestres: contato direto e indireto impõe riscos à conservação

A presença de animais domésticos em áreas naturais, incluindo em Unidades de Conservação (UCs), ainda é bastante comum. Enquanto alguns circulam por conta própria, outros são levados pelos seus tutores para passear.

Mas qual o problema disso?

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que tanto as UCs quanto outras áreas naturais desempenham um papel vital na proteção da biodiversidade em todo o mundo.

No entanto, a presença de animais domésticos nessas áreas pode ter consequências negativas para a saúde e bem-estar da fauna nativa.

Neste artigo, discutiremos sobre alguns dos principais problemas relacionados à interação entre animais domésticos e silvestres em áreas naturais e como evitá-los.

Continue lendo!

3 principais problemas da interação entre animais domésticos e silvestres que você precisa conhecer

Gatos domésticos não devem circular soltos e sem supervisão em áreas naturais (Foto: Marc Feldmann)

1. Predação de animais silvestres por cães e gatos  

Cães e gatos, sobretudo quando soltos e sem supervisão, podem caçar pequenos mamíferos. Não são raros os registros de animais silvestres abatidos por animais domésticos, seja para alimentação ou por comportamento instintivo.

Mesmo convivendo entre seres humanos, os gatos são caçadores por natureza. Portanto, ao circular por áreas naturais podem causar sérios prejuízos à vida selvagem por conta da predação.

Espécies de maior porte também correm risco de serem abatidas por cães, principalmente quando esses se juntam em grupos de caça, um comportamento natural dos caninos.

2. Competição territorial

A presença de animais domésticos em áreas naturais também leva à competição territorial, o que pode criar desequilíbrios significativos nos ecossistemas, prejudicando a sobrevivência das espécies silvestres.

O problema se intensifica com a perda crescente de áreas de vegetação nativa, provocada pelo avanço das cidades, desmatamento e incêndios florestais sobre as UCs.

Isso porque diminui os abrigos e passagens naturais, expondo os animais silvestres aos riscos do perímetro urbano — entre eles, o contato com animais domésticos —, comprometendo sua sobrevivência e reprodução.

3. Transmissão mútua de zoonoses

“Zoonoses” é o termo usado para se referir a doenças infecciosas transmitidas entre animais e humanos.

Mas o que as zoonoses têm a ver com a interação entre animais domésticos e silvestres?

O contato de cães e gatos com a fauna nativa contribui para a propagação de doenças causadas por bactérias e vírus de origem animal.

Isso pode gerar consequências preocupantes, como a devastação de populações silvestres e problemas de saúde pública.

As espécies silvestres podem ser infectadas ao entrar em contato com animais domésticos infectados ou com seus excrementos, e vice-versa. Entre as principais doenças estão: cinomose, toxoplasmose, raiva, leptospirose, leishmaniose, entre outras.

Fique sabendo que os humanos também podem contrair doenças pelo contato com animais domésticos e silvestres, seja pela saliva infectada (em caso de mordida), pelo contato com fezes ou água contaminada.

Doenças como toxoplasmose e raiva podem levar a distúrbios neurológicos e até à morte de seres humanos.

O que podemos fazer para evitar esses problemas?

Cachorro-do-mato (Foto: Igor Pinheiro)
Cachorro-do-mato (Foto: Igor Pinheiro)

A circulação de animais domésticos em UCs e outras áreas naturais tem sérias implicações para a vida da fauna silvestre.

Diante disso, a conscientização e a implementação de medidas que evitem a coexistência entre animais domésticos e selvagens nos mesmos ambientes são cruciais para mitigar esses impactos negativos.

Enquanto tutor de cães e gatos, confira as dicas do que você pode fazer para contribuir:

  • mantenha o calendário de vacinação de seus pets em dia, evitando que transmitam e adquiram doenças de animais silvestres;
  • jamais os estimule a caçar outros animais — a prática de caça é crime ambiental, descrita na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998;
  • não deixe seus animais circularem soltos e sem supervisão por áreas urbanas e naturais.

É importante ressaltar que a entrada de animais domésticos é proibida nas UCs, que funcionam como refúgio de vida silvestre.

Além de ser uma norma que deve ser seguida pelo cumprimento das legislações, trata-se de uma medida de proteção tanto dos pets quanto das espécies nativas.

Ao respeitar esses regramentos, você estará contribuindo para o bem-estar de todas as espécies e, portanto, para a conservação da biodiversidade e integridade dos ecossistemas.

Artigo escrito por Sarah Souza e Daniela Fujiwara