Em 12 e 17 de janeiro, a Brigada Florestal Itapetinga (BFI) da SIMBiOSE (Associação Serra do Itapetinga Movimento pela Biodiversidade e Organização dos Setores Ecológicos) combateu os primeiros incêndios florestais do ano, no Morro do Saci, local marcado por rica biodiversidade, beleza cênica e cujo projeto para criação de uma unidade de conservação já foi protocolado na Câmara Municipal de Atibaia.
Ambas ocorrências teriam sido provocadas pela ação humana, de forma intencional e criminosa — a Lei Municipal nº 4606 de 11 de julho de 2018 “proíbe a realização de queimadas no município de Atibaia, dispõe sobre os procedimentos de fiscalização e imposição de sanções administrativas, e dá outras providências”.
No primeiro incêndio, a operação de combate durou pouco mais de meia hora. Embora o fogo tenha se propagado morro acima em alta velocidade por conta do vento, declividade e tipo de material combustível (capim), a BFI chegou a tempo de evitar que o incêndio atingisse área florestada. O capim alto e úmido produziu muita fumaça, o que chamou atenção da população, que prontamente acionou a Brigada.
Cinco dias depois, o Morro do Saci foi atingido pelas chamas mais uma vez. Brigadistas da BFI, com apoio de moradores, levaram quase 3 horas para controlar o incêndio devido à dificuldade de acesso ao local. Apesar do esforço, o fogo acabou atingindo a borda de fragmentos de mata.
No total, os dois incêndios queimaram pouco mais de 3 hectares do Morro do Saci, o que equivale a cerca de 4 campos de futebol.
Impactos da alteração do regime de chuvas na dinâmica da Brigada Florestal Itapetinga
Embora janeiro costume ser um mês chuvoso no Sudeste, as mudanças climáticas somadas aos efeitos do El Niño têm gerado alterações no regime de chuva em todo o país. Enquanto algumas regiões enfrentam secas prolongadas, outras sofrem com as tempestades.
No caso de Atibaia, o tempo seco nos últimos meses tem feito o risco de incêndios florestais se manter alto para esta época do ano — algo que costuma ser mais comum no período de estiagem, entre junho e setembro.
Diante disso, a BFI precisou se adaptar, tendo que estar de prontidão para operações de combate num mês antes dedicado ao planejamento para a temporada seguinte. Essa dinâmica é adotada por outras brigadas do Brasil e pelos próprios órgãos públicos, cuja contratação de bombeiros para reforçar o trabalho de combate não se dá nessa época do ano, teoricamente marcada pelas chuvas.
Investimentos em conservação ajudam a reduzir danos ambientais na região
A BFI atua na região da Serra do Itapetinga há 20 anos. Por isso, conhece o território e suas áreas mais sensíveis ao fogo. A rápida mobilização só é possível graças a uma rede solidária formada por pessoas que notificam a SIMBiOSE sobre ocorrências de incêndio.
Além do trabalho voluntário, investimentos em projetos de conservação se mostram fundamentais para reduzir os danos ambientais e as alterações climáticas provocadas pela ação humana.
De 2017 a 2022, os municípios de Atibaia e Bom Jesus dos Perdões tiveram uma redução de quase 75% das áreas atingidas por incêndios florestais na Serra do Itapetinga e entorno.
Foi observado que o trabalho realizado pela SIMBiOSE por meio dos termos de parceria firmados com a Prefeitura de Atibaia e desenvolvido junto ao Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, Fundação Florestal, Coletivo Socioambiental de Atibaia e outras instituições locais gerou um modelo de governança participativa e investimento mínimo capaz de enfrentar períodos climáticos adversos.
Mais recentemente, as iniciativas de participação social, Manejo Integrado do Fogo, restauração e conservação de ecossistemas, estudos técnicos, políticas públicas e outras ações socioambientais desenvolvidas pela SIMBiOSE passaram a receber o apoio da The Nature Conservancy (TNC) Brasil por meio de um acordo de cooperação técnica.
Além de reduzir ameaças e maximizar os benefícios gerados pela natureza à sociedade, a parceria com a TNC Brasil tem o objetivo de replicar em outros municípios o modelo bem-sucedido de parceria público-privada desenvolvido entre SIMBiOSE e Prefeitura da Estância de Atibaia, tendo em vista os resultados impactantes gerados nos últimos anos.
Investimentos como esses em conservação fortalecem a gestão ambiental em territórios prioritários para a preservação e conservação da natureza, além de, mediante trabalho de comunicação social, poderem sensibilizar, engajar populações locais e evidenciar para as demais cidades que o investimento na natureza com apoio da sociedade civil pode dar bons resultados.
Nos incêndios do Morro do Saci, por exemplo, brigadistas puderam ser prontamente acionados para compor a operação de combate, que ocorreu em parceria com a população do bairro Itaguaçu e gerou, além de alta performance, engajamento e sensação de dever cumprido por parte de todos.
Projeto de lei para criação de unidade de conservação no Morro do Saci aguarda aprovação na Câmara Municipal de Atibaia
Há cinco anos, o Coletivo Socioambiental de Atibaia, junto da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura da Estância de Atibaia, proprietários do Morro do Saci, moradores do entorno, SIMBiOSE e Rádio Observatório Pierre Kauffman, promove debates e desempenha esforço na elaboração de uma proposta, para tornar o Morro do Saci um Monumento Natural Municipal — categoria de unidade de conservação que não requer desapropriação.
O Projeto de Lei nº 020/2022, que dispõe sobre a criação do Monumento Natural (MONA) Municipal do Morro do Saci está em tramitação na Câmara Municipal de Atibaia desde março de 2022.
A aprovação deste projeto é de extrema importância para a conservação do Morro do Saci. Além de compor parte da beleza cênica de Atibaia, é um refúgio da natureza próximo ao meio urbano, de extrema relevância para a preservação da flora e fauna, incluindo espécies ameaçadas de extinção.
Portanto, a expectativa da sociedade civil é de que o projeto seja aprovado em breve.
Com uma estrutura de proteção e um modelo de gestão que contemple conservação e uso ordenado, o futuro MONA Municipal do Morro do Saci pode contribuir também para o turismo, geração de renda e bem-estar da população.